Hoje iremos apresentar a história de uma das personagens mais marcantes da história do automobilismo: Maria Grazia Lombardi (Lella Lombardi), a primeira mulher a pontuar na Fórmula 1, a categoria mais disputada no mundo do automobilismo.
Com o passar dos anos, as mulheres vem ganhando mais espaço na cena do automobilismo, tendo uma categoria criada exclusivamente para elas, a W Series. Mesmo com os avanços e conquistas, apenas Lella conseguiu pontuar na Fórmula 1.
Nascida no dia 26 de março de 1941, em Frugarolo, Itália, Lella Lombardi teve seu primeiro emprego como motorista para o açougue de seu pai, porém a paixão por corridas veio ainda quando criança.
Moradores contam que aos 4 anos de idade, a garota se acidentou em um jogo de beisebol e foi socorrida por um morador local, para chegar mais rápido ao hospital e conseguir ajuda, o motorista pisou fundo com seu Alfa Romeo azul marinho, despertando assim o amor da garota por velocidade.
Início da carreira de Lella Lombardi
Com uma modesta passagem pelo kart, a garota até então desconhecida, passou a correr na Fórmula Monza e posteriormente na Fórmula 3 Italiana, onde começou a ser notada após conquistar o vice-campeonato 1968.
Dois anos após o segundo lugar, Lombardi conquistou o título da Fórmula 850 com quatro vitórias, fazendo com que sua carreira alavancasse. Por ter um talento inquestionável e até então incomum para o gênero, teve grandes oportunidades, como a passagem pela Fórmula Ford Inglesa e o ingresso na Fórmula 5000, agora com carros muito mais potentes.
Ainda no ano de 1974, Lella foi inscrita no GP da Inglaterra. Na posse de uma uma Brabham privada, com auxílio da federação italiana e o número 208 estampado no carro, ela terminou como 29ª colocada entre os 35 pilotos que disputaram a prova, porém não conseguiu vaga para o grid de 25 pilotos.
Grandes oportunidades
Já em 1975, a italiana foi contratada pela March formando um trio de pilotos juntamente com Vittorio Brambilla e Hans-Joachim Stuck. Com um início incerto, ela não chegou a disputar as duas primeiras provas do ano, localizadas na Argentina e no Brasil. Porém na terceira etapa, na África do Sul, conseguiu uma vaga para o grid ao ficar em 26º e último lugar, desbancando Wilsinho Fittipaldi e Graham Hill.
Na sua estreia, Lella contou com a sorte e aproveitou os abandonos para alcançar a 22ª posição, porém também precisou abandonar a prova com problemas na bomba de gasolina.
Em Barcelona, Lella fez a sua segunda corrida em um dia histórico e trágico para o automobilismo. Com os guard rails e telas montadas de maneira inadequada, o circuito de rua de Montjuich estava ainda mais perigoso.
Com a nítida falta de preparo da pista, os nervos estavam à flor da pele. Graham Hill chegou a derrubar um guard rail com um chute, fazendo com que Emerson Fittipaldi liderasse os pilotos nas ameaças de boicotar o evento e não participar da prova.
Tensão no ar
Pressionadas, as equipes, que tinham seus carros guardados no Estádio Olímpico, foram com seus mecânicos tentar aparafusar as barreiras. Sem grande sucesso…
Com o início da corrida, os acidentes começaram a acontecer, Rolf Stommelen protagonizou o mais grave. O alemão se feriu gravemente ao perder a asa traseira e voar sobre as telas, atingindo os espectadores do evento. Infelizmente o incidente acabou com a morte de quatro pessoas, e a corrida foi encerrada, depois de apenas 29 voltas.
Lella Lombardi largou na 24ª posição, conseguindo contornar os incidentes durante o trajeto e ficando entre os seis colocados, segundo o regulamento, como a prova não tinha completado ¾, apenas metade da pontuação seria validada. Sendo assim, Maria Grazia Lombardi somou apenas 0,5 ponto.
Resultado histórico
Mesmo parecendo uma pontuação baixa, o 0,5 ponto tem um valor histórico importantíssimo, sendo relevante não só para o mundo das corridas, mas para o avanço e representatividade das mulheres no esporte.
Com essa pontuação, Lella era a primeira mulher a chegar à zona de pontos em uma prova oficial da Fórmula 1. Apesar da pontuação baixa e da última colocação no ranking oficial com 339 pilotos que pontuaram na categoria, ela foi a única piloto a pontuar em um campeonato, deixando para trás mais de 512 pilotos que falharam em pontuar na F1, se sobressaindo até a vencedores da Indy, Le Mans, NASCAR, Fórmula E, dentre outras divisões do esporte.
Três mulheres participaram de treinos oficiais na Fórmula 1 além de Lella Lombardi, porém nenhuma delas conseguiu se classificar, e consequentemente, não pontuaram. São elas: Divina Galica; Desiré Wilson; Giovanna Amati.
Atualmente, mesmo após 47 anos da conquista, Lella Lombardi foi a única mulher a pontuar oficialmente na F1.
Depois do histórico resultado
No ano de 1975, a italiana quase aumentou sua pontuação no “inferno verde” de Nurburgring Nordschleife. Após uma grande atuação na pista, ela chegou em sétimo lugar (atualmente a competidora poderia arrecadar mais pontos, porém em 1975 essa colocação não garantia pontuação). Com esses resultados e mais onze corridas pela March, e uma pela Williams, a corredora fechou o ranking anual como 21ª da temporada.
Após a primeira corrida de 1976 ainda pela March, Lella foi substituída por Ronnie Peterson, que havia acabado de deixar a Lotus. A italiana ainda foi inscrita para três corridas pela equipe RAM com um carro Brabham alugado. Mesmo com os esforços, ela não se classificou para as corridas de Inglaterra e Alemanha. Na Áustria, foi a 22ª no grid de largada e finalizou a prova em 12º lugar. Foi a última corrida na F1 de Lella Lombardi.
Ainda em 1976, Lella competiu na famosa prova 24hrs de Le Mans, tendo seu resultado mais expressivo chegando em 2ª na classe GTP e em 20ª no ranking geral, pilotando um Lancia Stratos com motor Ferrari ao lado da francesa Christine Docremont.
Em 1988 após alguns bons resultados em Le Mans, Lella deixou de correr profissionalmente e fundou sua própria equipe, porém não pôde aproveitar muito. No mesmo período, a italiana já relatava fortes dores na região das mamas, infelizmente era um tumor.
No dia 3 de março de 1992, Maria Grazia Lombardi faleceu por decorrência do câncer.
Vamos rever um pouco mais do seu grande legado?
Depois de sua partida, o legado de Lella passou a ser exaltado com mais firmeza. Em sua cidade natal, Frugarolo, foi feito um busto em sua homenagem, enfim recebendo o reconhecimento pela sua obstinação e paixão pela velocidade.
Agora que você conheceu de perto a grande história de Lella Lombardi no mundo do automobilismo, conheça também o legado de outra grande e inesquecível piloto, que foi a primeira mulher na história a disputar as corridas de F1: Maria Teresa de Filippis!